No cenário global de investimentos, poucos debates são tão recorrentes e instigantes quanto a comparação entre ações de crescimento (growth stocks) e ações de valor (value stocks). Essa discussão não é recente: desde a popularização dos estudos de Benjamin Graham, considerado o pai do value investing, e mais tarde com a ascensão de gestores como Warren Buffett e Peter Lynch, o embate entre essas duas formas de investir se tornou central no mundo das finanças.
No Brasil, questões como “ações de crescimento vs. ações de valor” são vitais para sua estratégia inclusive nos impactos tributários no rendimento do seu investimento.
Cada uma dessas estratégias possui características distintas, riscos específicos e potenciais de retorno diferentes, que variam não apenas de acordo com o perfil do investidor, mas também conforme o contexto econômico. Em momentos de juros baixos e abundância de liquidez, as ações de crescimento tendem a se destacar, atraindo capital pela promessa de expansão acelerada e pela valorização futura. Por outro lado, em cenários de incerteza ou recessão, as ações de valor ganham espaço, já que oferecem fundamentos sólidos, preços mais “descontados” e fluxos de caixa consistentes, inclusive via pagamento de dividendos.
Para o investidor avançado, entender essas diferenças não é apenas uma questão acadêmica. Trata-se de uma decisão estratégica que pode impactar diretamente o desempenho da carteira no longo prazo. Ao decidir entre growth e value, é necessário avaliar fatores como a tolerância ao risco, a diversificação internacional, a tributação sobre ganhos de capital e até mesmo os custos operacionais de investir em bolsas estrangeiras.
Além disso, é importante considerar o aspecto psicológico dessa escolha entre ações de crescimento vs. ações de valor. Investidores que buscam crescimento precisam estar preparados para maior volatilidade e períodos de forte desvalorização, como ocorreu com empresas de tecnologia após o auge da pandemia. Já aqueles que preferem valor podem enfrentar frustrações em períodos de forte valorização de setores inovadores, sentindo que estão “perdendo o bonde”.
Neste artigo, vamos analisar em detalhes o que são ações de crescimento e de valor, seus pontos fortes e fracos, exemplos práticos de empresas internacionais que se enquadram em cada categoria, além de discutir qual estratégia pode se adequar melhor ao seu perfil e objetivos de longo prazo. Afinal, a grande questão que se impõe é: em um mercado internacional altamente dinâmico, vale a pena apostar em uma única filosofia de investimento ou buscar um equilíbrio inteligente entre ambas?

O debate entre ações de crescimento vs. ações de valor é recorrente entre analistas e investidores.
As ações de crescimento são associadas a empresas com alto potencial de expansão, que reinvestem seus lucros para acelerar o desenvolvimento, muitas vezes negociadas a múltiplos elevados.
Já as ações de valor pertencem a companhias consolidadas, com fundamentos sólidos e preços considerados abaixo de seu valor intrínseco, oferecendo maior estabilidade e dividendos regulares.
A escolha entre ações de crescimento vs. ações de valor depende do perfil do investidor, do horizonte de tempo e da tolerância ao risco, sendo comum a diversificação entre ambas para equilibrar retorno e segurança.
O que são ações de crescimento (growth stocks)?
As ações de crescimento são aquelas emitidas por empresas que apresentam alto potencial de expansão no futuro. Geralmente, são companhias que reinvestem a maior parte dos lucros no próprio negócio em vez de distribuir dividendos aos acionistas.
Características principais:
- Crescimento acelerado da receita e dos lucros.
- Baixa ou nenhuma distribuição de dividendos. Em vez de distribuir dividendos, elas reinvestem os lucros para crescer ainda mais.
- Negociação com múltiplos elevados, como P/L (preço/lucro) acima da média do mercado.
- Valorização futura: O preço atual pode parecer alto em relação ao lucro, mas os investidores apostam no crescimento futuro.
- Presença em setores inovadores, como tecnologia, biotecnologia e energia renovável.
Exemplos internacionais: Amazon, Tesla, Nvidia.
Exemplos nacionais: WEG, Natura, MRV.
Vantagens:
- Potencial de valorização expressiva no longo prazo.
- Empresas inseridas em setores disruptivos e em expansão.
Riscos:
- Alta volatilidade em períodos de incerteza econômica.
- Dependência de expectativas de crescimento futuro (muitas vezes já embutidas no preço da ação).
O que são ações de valor (value stocks)?
As ações de valor são papéis de empresas consolidadas que estão sendo negociados a preços abaixo de seu valor intrínseco, de acordo com análises fundamentalistas.
Características principais:
- Empresas maduras, com lucros consistentes.
- Geralmente pagam dividendos regularmente.
- Negociação com múltiplos baixos (P/L, P/VPA).
- Atuam em setores tradicionais como bancos, energia e consumo básico.
Exemplos internacionais: Johnson & Johnson, JPMorgan Chase, Coca-Cola.
Exemplos nacionais: Itaú, Banco do Brasil, Petrobrás, CEMIG, Caixa Seguridade.
Vantagens:
- Menor volatilidade em relação às ações de crescimento.
- Geração de fluxo de caixa estável e pagamento de dividendos.
- Maior resiliência em crises econômicas.
Riscos:
- Potencial de valorização mais limitado.
- Empresas podem enfrentar estagnação em setores maduros.
Comparando estratégias: ações de crescimento vs. ações de valor
Critério | Ações de Crescimento | Ações de Valor |
---|---|---|
Potencial de Retorno | Alto no longo prazo | Moderado |
Risco | Elevado | Moderado/baixo |
Dividendos | Baixos ou inexistentes | Frequentes |
Valuation | Múltiplos altos | Múltiplos baixos |
Perfil do Investidor | Arrojado | Conservador a moderado |
Qual estratégia adotar no mercado internacional?
A resposta depende do perfil do investidor e de suas metas:
- Investidor arrojado: tende a preferir ações de crescimento, aceitando maior volatilidade em busca de retornos exponenciais.
- Investidor moderado: pode se beneficiar mais de ações de valor, com maior previsibilidade e geração de renda via dividendos.
- Investidor diversificado: uma abordagem híbrida, conhecida como estratégia GARP (Growth at a Reasonable Price), busca combinar o melhor dos dois mundos — crescimento com valuation razoável.
No mercado internacional, muitos gestores recomendam o balanceamento entre as duas estratégias, principalmente porque cada ciclo econômico favorece uma delas. Em períodos de expansão, as ações de crescimento costumam se destacar; em tempos de recessão ou incerteza, as de valor tendem a performar melhor.
Outro aspecto importante a se considerar quando analisamos “ações de crescimento vs. ações de valor” é a questão dos impostos. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a tributação de 30% sobre os dividendos (aplicado na fonte). Desta forma, ações de crescimento podem fazer mais sentido neste aspecto, porque muitas empresas não pagam dividendos (ou pagam pouco) mas reinvestem em seu próprio negócio, aumentando cada vez mais seu valor, sem que o investidor pague impostos sobre os lucros da empresa. Quando você (brasileiro que mora no Brasil) vender as ações, não incidirá imposto nos Estados Unidos, más sim no Brasil, na alíquota de 15%. Veja no quadro abaixo um resumo da questão tributária:
Tipo de rendimento | Imposto nos EUA | Observações |
---|---|---|
Dividendos pagos por empresas americanas | Normalmente 30% de withholding tax sobre o valor bruto do dividendo, para investidores estrangeiros que não residem nos EUA. (Sumários Fiscais PwC) | Esse imposto já é deduzido automaticamente pela corretora ou pela empresa antes de você receber. Você precisa apresentar formulário W-8BEN para confirmar que é estrangeiro e, em alguns casos, aplicar alíquota reduzida se houver tratado (mas Brasil-EUA, atualmente, não tem tratado que reduza essa alíquota para dividendos para pessoas físicas). |
Ganhos de capital (capital gains) com venda de ações | Em geral, não há imposto federal dos EUA para não-residentes sobre ganhos com ações dos EUA — ou seja, se você comprar e vender ações americanas, normalmente você não paga imposto nos EUA sobre o ganho de capital. (Investopedia) | Uma exceção pode haver se você estiver muito tempo nos EUA ou tiver presença fiscal lá, etc., mas para a maioria dos investidores brasileiros residentes no Brasil é isento nos EUA. |
Imposto sucessório / estate tax | Se você tiver patrimônio significativo nos EUA, especialmente ações, pode haver o imposto de herança dos EUA (“estate tax”) que pode atingir valores altos. (Suno) | A aplicação depende do valor dos ativos, da estrutura de propriedade, etc. Há isenções “pequenas”, mas é algo a se considerar se os valores forem grandes. |
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O fator psicológico na escolha: ações de crescimento vs. ações de valor
Além dos fundamentos técnicos e econômicos, a escolha entre ações de crescimento e ações de valor também passa por um componente muitas vezes subestimado: o psicológico do investidor. A forma como lidamos com risco, volatilidade e expectativas influencia diretamente a tomada de decisão e pode determinar o sucesso ou fracasso da estratégia escolhida.
Os investidores que se atraem por ações de crescimento geralmente são movidos por uma visão de futuro. Estão dispostos a pagar múltiplos mais altos acreditando que empresas inovadoras, mesmo sem lucros imediatos, terão espaço para se expandir e dominar seus setores. Esse perfil exige paciência, disciplina e resiliência emocional para suportar períodos de forte volatilidade e quedas expressivas — como aconteceu com muitas empresas de tecnologia após o pico de valorização em 2020 e 2021.
Por outro lado, os adeptos das ações de valor tendem a ser mais conservadores. O foco em fundamentos sólidos, margens de segurança e preços considerados abaixo do valor intrínseco traz uma sensação de maior estabilidade. Porém, essa escolha também carrega desafios emocionais. Em ciclos de mercado dominados pelo entusiasmo com empresas inovadoras, os investidores de valor podem sentir frustração ou ansiedade por “ficar de fora” dos grandes ganhos de curto prazo, o famoso FOMO (fear of missing out).
O fator psicológico, portanto, não deve ser negligenciado. É comum que investidores mudem de estratégia no meio do caminho, seja abandonando empresas de crescimento após quedas bruscas ou desistindo das de valor por impaciência diante de retornos mais lentos. Essa alternância de postura, muitas vezes motivada por emoções, pode comprometer a performance de longo prazo.
Assim, conhecer o próprio perfil psicológico é tão importante quanto entender os números por trás de cada estratégia. Investidores disciplinados, capazes de manter a calma em períodos de turbulência, têm mais chances de colher bons resultados, seja qual for o caminho escolhido.
Considerações finais
A escolha entre ações de crescimento vs. ações de valor não deve ser feita de forma isolada. O ideal é considerar:
- Seu horizonte de investimento.
- Tolerância ao risco.
- Necessidade ou não de dividendos.
- Diversificação da carteira em diferentes setores e geografias.
- Questões tributárias.
No mercado internacional, a diversificação inteligente continua sendo a chave para reduzir riscos e aproveitar oportunidades em diferentes ciclos econômicos.
Em resumo: não existe uma estratégia universalmente melhor. O investidor avançado deve estar atento aos movimentos globais, ajustar sua alocação ao longo do tempo e, acima de tudo, manter disciplina em sua análise fundamentalista.
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Disclaimer: Este conteúdo tem caráter apenas informativo e não constitui recomendação de investimento. Consulte um profissional qualificado antes de tomar decisões financeiras.